sexta-feira, 10 de julho de 2009

TRABALHANDO A LITERATURA EM SALA DE AULA

Livro: Reorientação curricular, 2005.

LITERATURA

“A abordagem da literatura deve basear-se na concepção de que toda criação se fundamenta na observação e recriação da realidade. O texto literário – oral ou escrito, em prosa ou versos –, não é unívoco, ao contrário, caracterizase pela polissemia, constituindo um espaço privilegiado para incentivar a interação criativa. Por sua dimensão artística, proporciona deleite e promove identificação ou distanciamento crítico. E, assim, instiga à reflexão sobre ba condição do homem no mundo e a questionamentos sobre a realidade brasileira, pois evidencia traços que nos identificam com uma cultura e uma consciência nacionais.”
(Coutada e Costa, 1999)

É inegável o direito que todo aluno tem de conhecer os autores brasileiros que refletiram sobre nossa história e nossa cultura, ajudando a pensar a realidade brasileira no contexto mundial. Essas leituras são imprescindíveis ao desenvolvimento da identidade pessoal e social do aluno.

Contos, crônicas ou poemas exigem procedimentos de leitura diferentes dos usados para ler receitas, artigos de opinião ou textos de divulgação científica, e isso precisa ser aprendido na escola, desde as séries iniciais.
Os estudantes, acostumados a buscar as intenções e as especificidades de cada texto e de suas condições de produção, percebem que os literários solicitam (ainda mais do que os demais) a disponibilidade do leitor para habitar o mundo do “faz de conta” e o reconhecimento de convenções, “protocolos de leitura literária” 5.

Portanto, é necessário planejar e executar atividades que promovam o progressivo domínio de conceitos e de habilidades específicas de leitura a serem mobilizadas para a interação proveitosa e prazerosa com a literatura. A partir das possibilidades manifestadas pelos alunos, devemos propiciar que ampliem suas expectativas de leitura, imponham-se questionamentos e desejem novos desafios. Por exemplo, validando uma leitura superficial de conto pela qual tendem a reter somente a história relatada, instigá-los a identificar o tema mais abrangente colocado em questão ou a perceber relações entre forma e conteúdo.

Dessa forma, a interação com a literatura leva ao reconhecimento de que, nesses textos, há uma recusa ao lugar comum e às fórmulas previsíveis, por isso provocam no leitor um estranhamento que o impulsiona a novas descobertas lingüísticas e de mundo. Por esse motivo, ler extratos ou adaptações de romances não é atividade adequada, pois há perda da dimensão artística do escritor. Em textos literários o “como” se diz é tão importante quanto o “quê” se diz, portanto os fragmentos ou diluições raramente criam envolvimento estético.

Fica evidente que a inserção da literatura na disciplina Língua Portuguesa deve estar centrada na investigação do texto e no desenvolvimento de capacidades leitoras e não mais, como acontecia, nas informações externas, tais como: a periodização dos estilos de época, as características desses períodos ou de seus principais autores.

O enfoque temático ajuda no entendimento da manifestação artística como expressão de anseios, esperanças, sonhos, angústias, enfim, de sentimentos que perpassam o tempo e constituem a essência humana. Compartilhar com os alunos a fruição desse patrimônio artístico é um dever de profissional e de cidadão.


Assim, o trabalho com a literatura no ensino médio deverá:

• Priorizar a análise do texto e não o contexto histórico.

• Partir de textos contemporâneos, mais próximos da realidade do aluno.

• Privilegiar a abordagem temática, buscando ressaltar as semelhanças e diferenças entre textos de diferentes épocas e / ou autores.


• Evitar a exploração de seqüência cronológica e de marcas específicas dos estilos de época.

Todos nós, professores, que trabalhamos com os adolescentes do ensino médio, sabemos da resistência do aluno aos textos clássicos. Essa resistência é fruto, na maioria das vezes, da dificuldade de leitura, decorrente de vocabulário pouco conhecido por esses leitores e, também, da falta de interesse por temas que os alunos consideram pouco relacionados à sua experiência de vida.

Para vencer essas dificuldades, o trabalho temático é uma saída. Se o professor relacionar os temas com que pretende trabalhar a experiências próximas à realidade do educando, ele ficará, sem dúvida, mais motivado para o estudo.

Para ilustrar nosso ponto de vista, tomemos como exemplo um tema que não pode deixar de ser trabalhado com o aluno durante o ensino médio: a identidade nacional. Se o professor optar por iniciar o estudo pela exploração de textos do Romantismo nacional, poderá encontrar alguma resistência por parte de seus alunos. Por outro lado, se for promovida uma discussão a respeito, por exemplo, das influências estrangeiras em nossas vidas nos dias de hoje, provavelmente os próprios alunos trarão exemplos concretos dessa marca do mundo globalizado.

A partir dessa discussão preliminar, o professor pode iniciar seu trabalho com textos de jornal que discutam mas influências positivas e/ou negativas dessas trocas culturais até chegar à busca da valorização da cultura nacional como está se apresentando no momento. Com esse tipo de contextualização, o aluno desenvolve seu espírito crítico e pode compartilhar a preocupação de alguns de nossos escritores, tais como José de Alencar, Lima Barreto ou Oswald de Andrade.

O livro didático deve ser visto como uma ferramenta de apoio ao estudo do texto literário e não como uma camisa de força para o trabalho do professor. Ele pode planejar esse tipo de estudo temático utilizando-se dos textos que apareçam no livro, na seqüência que atenda a seu planejamento.

A literatura deve dar prazer

O livro deve ser usado em sala de aula com muita paixão. Quando o trabalho é feito com gosto, fica fácil descobrir a melhor forma de envolver a turma. É possível analisar o contexto da história, fazer um júri simulado, uma dramatização, um debate... Tudo vai depender da realidade de cada turma.
Ninguém deve ler para fazer prova. O resultado é que, espontaneamente, surgem inúmeras discussões sobre as histórias. Os níveis de leitura sobem e as pessoas passam a se expressar melhor.”
(Machado, 2001)

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